CALIGARFIAS:
UMA REALIDADES INQUIETA.
Fundacao
Portuguesa das Comunicacoes,
Lisbon, October-November 2008.
Curator:Maria Joao Fernandes
A
Fundação Portuguesa das Comunicações, com
data prevista de inauguração a 9 de Outubro, apresenta a
exposição Caligrafias Uma Realidade Inquieta, comissariada
pela crítica de arte (A.I.C.A.) Maria João Fernandes,
cujo tema é a relação escrita/pintura, inspirada
pela estética do Oriente, uma relação fundadora da
arte do século XX. De Mallarmé (Un Coup de DésJamais
n’Abolira le Hasard), às vanguardas do século XX,
futurismo e dada, aos Caligramas de Apollinaire, ao informalismo e gestualismo
das décadas de 30, 40 e 50, ao movimento internacional da Poesia
Visual que em Portugal floresceu na década 60, não cessaram
as contaminações da palavra e da imagem, da poesia e das
artes plásticas que permanecem uma influência na obra de
nomes marcantes do panorama artístico da actualidade, como na de
jovens valores emergentes.
Na exposição Caligrafias uma Realidade Inquieta estarão
documentados movimentos que no século XX exploraram justamente
estas contaminações procurando a plenitude de uma expressão
inspirada pela poesia.
O grupo internacional COBRA (1948 a 1951) estará representado pelo
pintor Alechinsky, o grupo espanhol El Paso A (1957-1960) por Suárez,
Viola e Antonio Saura e o pintor também espanhol Tàpies
marcará presença como uma das estéticas mais originais
da arte do século XX, criadora de novos signos e de uma imagem
do humano para o nosso tempo (Roland Penrose). KWY, o grupo português
que em Paris, entre 1958 e 1968 viveu uma aventura poética em sintonia
com o contexto internacional será evocado pela presença
fundamental de João Vieira, que na sua obra refez a imagem da escrita
e da pintura em diálogo com a arte portuguesa de Nuno Gonçalves,
Francisco de Holanda e Vasco Fernandes aos modernistas Amadeo Souza-Cardoso
e Almada Negreiros.
Almada Negreiros abrirá a exposição com os seus inovadores
caligramas de 1920. Um conjunto de trabalhos de Ana Hatherly e de Ernesto
de Melo e Castro, expoentes da poesia visual portuguesa evocarão
por sua vez
este movimento. A exposição apresentará ainda trabalhos
de António Sena, Carmo Pólvora, Emerenciano, Eurico Gonçalves,
Francisco Laranjo, Gracinda Candeias, González Bravo, Hilário
Bravo, Reguera, Rico Sequeira, Teresa
Lobo, Teresa Magalhães e das jovens Alexandra Mesquita, Cristina
Valadas e Esther Villalobos (espanhola) e Inês Curto.
O
livro Caligrafias a Nascente dos Nomes de Maria João Fernandes,
apoiado e editado pela Fundação Portuguesa das Comunicações
deverá ser lançado na inauguração da exposição
a 9 de Outubro, dia mundial das comunicações. Trata-se de
uma primeira recolha temática dos textos da autora, abordando a
relação fundadora da arte do século XX, entre escrita
e pintura, num período de cerca de 30 anos.
Caligrafias
foi aliás o título de um caderno temático editado
em 2006 pela Revista Mealibra de Viana do Castelo (com apoio da Fundação
Calouste Gulbenkian e do Instituto Camões), que deu forma a um
projecto nascido em
1978, de uma revista que então pretendia realizar com os seus alunos
da Faculdade de Letras de Lisboa e onde já constavam grandes nomes
do nosso meio artístico, como Ana Hatherly, António Ramos
Rosa ou Manuel Baptista.
Escreveu em 2006 Ana Hatherly: "Considero Caligrafias uma realização
ímpar. Parece que finalmente se começa a compreender a importância
de tudo o que se fez entre nós e durante tanto tempo se ignorou
e desprezou mesmo. A relação que existe entre a escrita
e a arte, ou seja, aquilo que já denominei de escritalidade é
como se fosse uma espécie de espinha dorsal da criatividade do
século XX, que os jovens agora (re) descobrem com surpresa e mesmo
alguma inveja... (...) Na minha opinião este texto deveria ser
publicado em forma de livro porque assim circularia mais facilmente e
teria uma dimensão de maior peso (...)."
Indo ao encontro do que sugeriu Ana Hatherly a autora teve portanto a
ideia de juntar neste livro trinta anos do seu trabalho de crítica
de arte, no âmbito justamente do diálogo escrita pintura,
literatura e artes plásticas, incidindo quer sobre grandes movimentos,
como COBRA, EL PASO ou o nosso KWY, quer sobre nomes marcantes desta tendência
em Portugal, como João Vieira, Ana Hatherly, Eurico Gonçalves,
Emerenciano, Álvaro Lapa, António
Sena, Teresa Magalhães, Gracinda Candeias ou Manuel Baptista, ou
outros emergentes, como Alexandra Mesquita ou Cristina Valadas, num total
de mais de sessenta textos. O livro permite pela primeira vez um olhar
de conjunto
sobre a presença em Portugal de uma das tendências marcantes
da arte contemporânea, justamente o diálogo escrita pintura
internacionalmente aí representado por Henry Michaux, Dotremont,
Alechinsky (Cobra, os dois
últimos), Antoni Tàpies e Suárez, Viola e Antonio
Saura (El Paso, os três últimos). Conta com um prefácio
de António Ramos Rosa.
Estão documentadas presenças suas em importantes realizações
culturais como a exposição colectiva promovida pela Sociedade
Nacional de Belas Artes, comemorativa dos dez anos do 25 de Abril, com
escolhas temáticas de diversos críticos (José-Augusto
França, Rui-Mário Gonçalves, José-Luís
Porfírio, Sílvia Chicó, entre outros), sendo que
a proposta que nessa ocasião fez tinha como tema e título
justamente “Caligrafias”. Documentadas estão também
a sua presença no Colóquio internacional da A.I.C.A. em
Macau onde no âmbito do tema em causa, o diálogo Ocidente,
Oriente, dissertou sobre a influência de Henri Michaux na arte portuguesa
contemporânea, bem como a sua presença no colóquio
de homenagem a Jacinto do Prado Coelho na Fundação Calouste
Gulbenkian, onde apresentou um texto sobre Ana Hatherly. A organização
deste livro revela uma intenção, a reflexão sobre
a importância desta tendência na arte portuguesa contemporânea
em sintonia com grandes tendências e movimentos marcantes dos meados
do século XX em Portugal e no estrangeiro, com reflexões
de fundo da autora sobre o seu significado e o modo como nesta abordagem
a “Galáxia de Gutemberg” convive
com os signos picturais do Oriente.
Na mesma ocasião e com o mesmo tema e o mesmo título, Caligrafias,
estará igualmente patente no Museu Tavares Proença de Castelo
Branco uma exposição.É pois neste contexto que solicitamos
o seu acordo para a sua presença no livro citado: Caligrafias a
Nascente dos Nomes, e na exposição com o mesmo título,
através do preenchimento de documento anexo cuja devolução
urgente à Fundação Portuguesa das Comunicações
solicitamos.
Aguardando a sua resposta que desde já agradecemos, com a expressão
da maior simpatia e consideração e os melhores cumprimentos:
Pela
Direcção da Fundação Portuguesa das Comunicações:
Maria
João Fernandes.
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