"ATMÓSFERAS CON TEXTURAS"

ONE MAN SHOW. 01/27- 02/25 2006. LISBOA.

GALERIA ARTE CONTEMPORÁNEA ÁNTONIO PRATES.

Rua Alexandre Herculano, 39, A. 1250-009. Lisboa.

 

 

 
Marcos Ricardo Barnatan Text.

Maria João Fernandes Text.

 

 

 

ALBERTO REGUERA BEFORE THE ENIGMATIC SPACE OF HIS MAJOR SUITE.

(M. R. Barnatán)

I
("...The vacant interstellar spaces, the vacant into the vacant..." T.s.Eliot)


Art knows spaces which ordinary linguistic codes know nothing about. Spaces that are hard to name, difficult and too diffuse to determine. They are spaces that seem to escape the realm of reason, but that not withstanding are reason itself. That place exists because its remote origins can be described, but in contrast its causes are peculiarly unpredictable. A dear spanish poet, called it "zero zone", and represents it as "a place of transformation" (1), a space without a center towards which all encounters tend. It is aiso, apart from that, a space without time, because " at each instant the eternal begins again", and it is aiso an ambiguous no-man's-land that
sepárales the real from the imaginary.
Alberto Reguera has been able to make those peculiar spaces an important part of the "Reguera style"(2), in the "ample and resonant sense of the word", that the north-american critic attributes it with. A style of great consistency that the Lisbon public has come to know in depth through the numerous solo exhibitions that have been held over more than 10 years in Antonio Frates' Galleries. And that now has it's well earned culmination in this extraordinary show in which he presents for the first time his largest pieces.
Abstract art achieves its greatest impacts in large formáis, a law that is without exception in Reguera. To approach the large paintings in this exhibition, is without a doubt, to approach exceptional pieces, that structure his work in a powerful way. They are about half a dozen planets around which rotate ten privileged satellites: the smaller
formats. This constellation of velocious pigments, encompasses all the best repertoire of our painter: the rothkian skies, their day and night time fragments. The metallic colours, the silvers and prussian blues, the pigments floating upon aquatic panoramas.


Evocaciones con Misterio

 

There is one piece, which I must confess, I prefer: "Evocaciones con Misterio", painted in 2002, a true masterpiece, in which appears a festival of ocres and magentas with an intense caloric force. In the same suite of larger works, the peaceful "Luces de invierno", makes the necessary contrast to the igneous passion of the formen Two examples of the intense sequences that make this suite a true closed atmosphere, a chapel into whose interior the spectator gains his accessit.


II
( NUIT, DÉSESPOIR ET PIERRERIE ) - Night, Despair and Jeweis
"A fool sees not the same tree as the wise man sees."
William Blake


To understand a painting by Alberto Reguera, as with good poetry, we must be prepared. This prior disposition is not oniy spiritual but it aiso relates to, and in a very important way, our sensitive and cultural education.
I recall the first time I found myself before one of his paintings, more than fifteen years ago, and the impact I felt at the time: " it is a forest blooming from my eyes of earth" wouid be the poetic explanation through the wise words of Salvatore Quasimodo. The landscape here is velocious, ¡t is no longer drawn through the fastidious craftmanship of academic painters of the past, the landscape-forest with its aquatic brothers and desert cousins imbues the canvas in all its depth. And it's our "eyes of earth" that must recréate beyond the enchanted limits of the painting.

 

Luces de Invierno

 

Each presentation of rnatter and colour by Alberto Reguera can be seen as a disquieting source of moving images, like an open fountain and that at the same time is semi-hidden or dormant and demands from us a surrender to the adventure of the true action of thought. There exists an abyss unfolding, there is an "existing" as was taught by Levinas, that has its roots in the distant place where our consciences were forged. To achieve that "existance" can be an instant phenomenon, something akin to fascination. To access it in a fulgurant way that allows us to recognize, and even relate to others an experience that couid seem non-transferable.
That is, perhaps, the best route, the most perfect, although sensitivo experiences are never complete, as Lacan said. And that perpetual non-finishing is more fortúnate than it is a damnation, that allows us the celebration of plurality and of eternal return. Always an annoucement because nothing expires.


MARCOS-RICARDO BARNATÁN.


Notes:
(1)José Luis Giménez-Frontín. "Zona Cero".Emboscall.Barcelona.2003
(2) Rex Weil "Alberto Reguera: Exploración/Evolución". Catalogue. Junta de Castilla León. 2004
The title, in brackets, of the second fragment of this text is a famous verse by Stéphane Mallarmé, the same poet who was able to see "a rose among the darkness".


 
 

MAIS ESPLENDOR
A Pintura de Reguera

Maria João Fernandes.

 

 
Más Esplendor 2006

 


"Se asoma luz tangible al horizonte.
(...)
oh continua, profunda suavidad de silencio!
(...) Todo es ahora."
Jorge Guillén - Más Esplendor - Cántico

Alberto Reguera oferece-nos uma vez mais o esplendor, feito de silencioso brilho e claridade, da sua pintura. Nascido em Segovia em 1961 é um dos valores emergentes internacionalmente da pintura espanhola contemporânea. A confirmá-lo a atribuição em 1995 do Prémio de Pintura da Academia de Belas-Artes de Paris. A sua formação, tal como a sua obra escapam aos parâmetros habituais. O percurso do pintor conta nos seus inícios com o estudo aprofundado da história de arte (em 1984 na Escola do Louvre em Paris), tendo obtido uma licenciatura em História Moderna pela Universidade de Valladolid em 1985, realizando no mesmo ano as suas primeiras exposições. A partir de 1991 vive e trabalha entre Madrid e Paris, cidade com a qual mantém uma forte ligação.
As grandes referências da história de arte que o seu trabalho revela, são assumidas pelo artista. Ao apoiar-se numa tradição em que sobressai a estética do romantismo, com a afirmação lírica do eu e a expressão de grandes atmosferas luminosas que acentuam a relação poética entre o sujeito e o Cosmos, Reguera escapa aos estereótipos da actualidade vanguardista e situa as suas próprias coordenadas sensíveis entre o impressionismo e o simbolismo, sintetizados numa abstracção lírica profundamente original.
Os seus mestres, tal como confessa em entrevista (1), numa aprendizagem completada nos grandes museus, foram Bosch, La Tour, Delacroix, Monet e Seurat aos quais veio juntar-se como referência fundamental "a gente de Paris dos anos cinquenta: Hartung, Schneider, Jean Miotte, Olivier Debré". Encontramos neste conjunto algumas das vertentes que o artista privilegia na sua pintura: a surrealidade aliada a um forte sentido da realidade (Bosch), a espiritualidade traduzindo-se em atmosferas diurnas e nocturnas (de La Tour), a euforia da cor, a sua leveza, fluidez, brilho e profundidade românticas (de Delacroix, segundo Baudelaire o primeiro dos modernos), a decantação das formas e dos aspectos do mundo em cor-luz (do impressionismo de Monet e Seurat) e a gestualidade moderna e o dinamismo subjectivo de Hartung e Schneider.
A afinidade espiritual e plástica com Turner outro dos grandes precursores da modernidade pela sua afirmação romântica do poder emotivo da cor, é-nos sugerida pela sua obra onde se reúnem todos os dados do seu conhecimento da história de arte e a sensibilidade atenta à observação das aparências mutáveis da natureza e a uma natureza interior que se alimenta das vibrações do invisível.
Na pintura de Reguera o universo sonha, transportando-nos no fluxo luminoso da cor, os ritmos são verticais, da chuva ou do fundo do mar, inconstantes, como os das ondas, difusos como os das nuvens ou orientando-se segundo a linha de horizontes marítimos. A cor é a dos oceanos, do fogo indomável da terra, ascendente e voluptuoso, cintilante, deslumbrando como a luz que atravessa a folhagem, verde coração da floresta, evocação de presenças transfiguradas pela memória.
A originalidade de Reguera está na conciliação entre um olhar sobre a natureza, de uma precisão impressionista e a diluição de uma memória abstractizante, que sintetiza poeticamente situações atmosféricas de cor. Entre o olhar e a memória, desdobram-se as suas paisagens abstractas e cintilantes, os seus mares sumptuosamente iluminados, onde a sensorialidade parece transfigurada, oferecendo-nos novos domínios do espírito.

 

Visiones Aéreas 2003

 

A pureza inicial da brancura, o infinito e a liberdade de um horizonte que é o próprio amor da distância. E uma proximidade mágica, devolvida pelo encantamento dos sentidos. A pintura de Reguera apoia a sua sedução no luxo dos sentidos, o olhar capta todo o delicioso sabor do horizonte, toda a irrealidade de uma natureza próxima que o sonho imaterializa (Visiones Aéreas).
O pintor sonha com o universo e leva-nos no caudal de sensações maravilhosas. Cascatas de luz e águas miraculosas, a dança do fogo (Evocaciones con Misterio), a vertiginosa cavalgada do vento, a profundidade de oceanos insondáveis do espírito de onde emerge a virtualidade das formas.
A composição é a do ritmo da cor, dos ritmos que parecem ditados pelos caprichos da natureza. É nessa ilusão que se afirma o talento do artista, a sua audácia, o seu rigor. A intencionalidade deixa-se adivinhar na fluidez das atmosferas poéticas captadas na sua palpitante e musical solidão, como se não fossem vistas e apenas se revelassem em si mesmas, num momento divino, num movimento da consciência descobrindo-se a si mesma entre o brilho e a plasticidede da matéria. O ar, o fogo, a luz, o mar. O canto da matéria é o cântico da alma. A matéria existe nos limites da tela e oferece-nos o espaço de uma presença encantada e da evasão.
Estar e não estar, entre a presença e a ausência, a memória e a cintilação irrepetível do instante. Entre a felicidade e a melancolia, o esplendor matinal e as cinzas do entardecer. Azul surreal, cofre de uma dourada cintilação ou anoitecendo nos braços de um abismo, de uma chuva que vela os seus mistérios (Cielos Nocturnos de Segovia).
Colorida alma da vida entre véus de sombras chamejantes. A luz acende o azul e abre-lhe horizontes marítimos e puros (Luces de Invierno).
A matéria é apenas cor. A cor torna-se matéria e envolve-nos, dilui-nos. Nós deixamos de existir para existirmos no seio da própria existência. A arte de Reguera utilizando meios aparentemente simples, jogando com a luz, os sortilégios, os ritmos da cor, a sua matéria, as suas rugosidades, provoca a experiência poética de um encontro original do ser e do Cosmos que a sua arte como forma de conhecimento e de exploração arriscada dos sentidos e do espírito nos faz pressentir e nos deixa magnificamente entrever.


Nota:1. Cf. Entrevista de Rosa Pereda a Alberto Reguera in Revista Galeria de Arte Nš 5 Ano 2 Junho/Agosto de 1996, Pág.s 22 a 24.