ALBERTO
REGUERA BEFORE THE ENIGMATIC SPACE OF HIS MAJOR SUITE.
(M.
R. Barnatán)
I
("...The vacant interstellar spaces, the
vacant into the vacant..." T.s.Eliot)
Art knows spaces which ordinary linguistic
codes know nothing about. Spaces that are hard to name, difficult
and too diffuse to determine. They are spaces that seem to escape
the realm of reason, but that not withstanding are reason itself.
That place exists because its remote origins can be described, but
in contrast its causes are peculiarly unpredictable. A dear spanish
poet, called it "zero zone", and represents it as "a
place of transformation" (1), a space without a center towards
which all encounters tend. It is aiso, apart from that, a space
without time, because " at each instant the eternal begins
again", and it is aiso an ambiguous no-man's-land that
sepárales the real from the imaginary.
Alberto Reguera has been able to make those peculiar spaces an important
part of the "Reguera style"(2), in the "ample and
resonant sense of the word", that the north-american critic
attributes it with. A style of great consistency that the Lisbon
public has come to know in depth through the numerous solo exhibitions
that have been held over more than 10 years in Antonio Frates' Galleries.
And that now has it's well earned culmination in this extraordinary
show in which he presents for the first time his largest pieces.
Abstract art achieves its greatest impacts in large formáis,
a law that is without exception in Reguera. To approach the large
paintings in this exhibition, is without a doubt, to approach exceptional
pieces, that structure his work in a powerful way. They are about
half a dozen planets around which rotate ten privileged satellites:
the smaller
formats. This constellation of velocious pigments, encompasses all
the best repertoire of our painter: the rothkian skies, their day
and night time fragments. The metallic colours, the silvers and
prussian blues, the pigments floating upon aquatic panoramas.
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Evocaciones
con Misterio |
There
is one piece, which I must confess, I prefer: "Evocaciones
con Misterio", painted in 2002, a true masterpiece, in which
appears a festival of ocres and magentas with an intense caloric
force. In the same suite of larger works, the peaceful "Luces
de invierno", makes the necessary contrast to the igneous passion
of the formen Two examples of the intense sequences that make this
suite a true closed atmosphere, a chapel into whose interior the
spectator gains his accessit.
II
( NUIT, DÉSESPOIR ET PIERRERIE ) - Night, Despair and Jeweis
"A fool sees not the same tree as the wise man sees."
William Blake
To understand a painting by Alberto Reguera,
as with good poetry, we must be prepared. This prior disposition
is not oniy spiritual but it aiso relates to, and in a very important
way, our sensitive and cultural education.
I recall the first time I found myself before one of his paintings,
more than fifteen years ago, and the impact I felt at the time:
" it is a forest blooming from my eyes of earth" wouid
be the poetic explanation through the wise words of Salvatore Quasimodo.
The landscape here is velocious, ¡t is no longer drawn through
the fastidious craftmanship of academic painters of the past, the
landscape-forest with its aquatic brothers and desert cousins imbues
the canvas in all its depth. And it's our "eyes of earth"
that must recréate beyond the enchanted limits of the painting.
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Luces
de Invierno |
Each
presentation of rnatter and colour by Alberto Reguera can be seen
as a disquieting source of moving images, like an open fountain
and that at the same time is semi-hidden or dormant and demands
from us a surrender to the adventure of the true action of thought.
There exists an abyss unfolding, there is an "existing"
as was taught by Levinas, that has its roots in the distant place
where our consciences were forged. To achieve that "existance"
can be an instant phenomenon, something akin to fascination. To
access it in a fulgurant way that allows us to recognize, and even
relate to others an experience that couid seem non-transferable.
That is, perhaps, the best route, the most perfect, although sensitivo
experiences are never complete, as Lacan said. And that perpetual
non-finishing is more fortúnate than it is a damnation, that
allows us the celebration of plurality and of eternal return. Always
an annoucement because nothing expires.
MARCOS-RICARDO BARNATÁN.
Notes:
(1)José Luis Giménez-Frontín. "Zona Cero".Emboscall.Barcelona.2003
(2) Rex Weil "Alberto Reguera: Exploración/Evolución".
Catalogue. Junta de Castilla León. 2004
The title, in brackets, of the second fragment of this text is a
famous verse by Stéphane Mallarmé, the same poet who
was able to see "a rose among the darkness".
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MAIS
ESPLENDOR
A Pintura de
Reguera
Maria
João Fernandes.
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Más
Esplendor 2006 |
"Se asoma luz tangible al
horizonte.
(...)
oh continua, profunda suavidad de silencio!
(...) Todo es ahora."
Jorge Guillén - Más Esplendor - Cántico
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Alberto
Reguera oferece-nos uma vez mais o esplendor, feito de silencioso
brilho e claridade, da sua pintura. Nascido em Segovia em 1961
é um dos valores emergentes internacionalmente da pintura
espanhola contemporânea. A confirmá-lo a atribuição
em 1995 do Prémio de Pintura da Academia de Belas-Artes
de Paris. A sua formação, tal como a sua obra escapam
aos parâmetros habituais. O percurso do pintor conta nos
seus inícios com o estudo aprofundado da história
de arte (em 1984 na Escola do Louvre em Paris), tendo obtido uma
licenciatura em História Moderna pela Universidade de Valladolid
em 1985, realizando no mesmo ano as suas primeiras exposições.
A partir de 1991 vive e trabalha entre Madrid e Paris, cidade
com a qual mantém uma forte ligação.
As grandes referências da história de arte que o
seu trabalho revela, são assumidas pelo artista. Ao apoiar-se
numa tradição em que sobressai a estética
do romantismo, com a afirmação lírica do
eu e a expressão de grandes atmosferas luminosas que acentuam
a relação poética entre o sujeito e o Cosmos,
Reguera escapa aos estereótipos da actualidade vanguardista
e situa as suas próprias coordenadas sensíveis entre
o impressionismo e o simbolismo, sintetizados numa abstracção
lírica profundamente original.
Os seus mestres, tal como confessa em entrevista (1), numa aprendizagem
completada nos grandes museus, foram Bosch, La Tour, Delacroix,
Monet e Seurat aos quais veio juntar-se como referência
fundamental "a gente de Paris dos anos cinquenta: Hartung,
Schneider, Jean Miotte, Olivier Debré". Encontramos
neste conjunto algumas das vertentes que o artista privilegia
na sua pintura: a surrealidade aliada a um forte sentido da realidade
(Bosch), a espiritualidade traduzindo-se em atmosferas diurnas
e nocturnas (de La Tour), a euforia da cor, a sua leveza, fluidez,
brilho e profundidade românticas (de Delacroix, segundo
Baudelaire o primeiro dos modernos), a decantação
das formas e dos aspectos do mundo em cor-luz (do impressionismo
de Monet e Seurat) e a gestualidade moderna e o dinamismo subjectivo
de Hartung e Schneider.
A afinidade espiritual e plástica com Turner outro dos
grandes precursores da modernidade pela sua afirmação
romântica do poder emotivo da cor, é-nos sugerida
pela sua obra onde se reúnem todos os dados do seu conhecimento
da história de arte e a sensibilidade atenta à observação
das aparências mutáveis da natureza e a uma natureza
interior que se alimenta das vibrações do invisível.
Na pintura de Reguera o universo sonha, transportando-nos no fluxo
luminoso da cor, os ritmos são verticais, da chuva ou do
fundo do mar, inconstantes, como os das ondas, difusos como os
das nuvens ou orientando-se segundo a linha de horizontes marítimos.
A cor é a dos oceanos, do fogo indomável da terra,
ascendente e voluptuoso, cintilante, deslumbrando como a luz que
atravessa a folhagem, verde coração da floresta,
evocação de presenças transfiguradas pela
memória.
A originalidade de Reguera está na conciliação
entre um olhar sobre a natureza, de uma precisão impressionista
e a diluição de uma memória abstractizante,
que sintetiza poeticamente situações atmosféricas
de cor. Entre o olhar e a memória, desdobram-se as suas
paisagens abstractas e cintilantes, os seus mares sumptuosamente
iluminados, onde a sensorialidade parece transfigurada, oferecendo-nos
novos domínios do espírito.
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Visiones
Aéreas 2003 |
A
pureza inicial da brancura, o infinito e a liberdade de um horizonte
que é o próprio amor da distância. E uma proximidade
mágica, devolvida pelo encantamento dos sentidos. A pintura
de Reguera apoia a sua sedução no luxo dos sentidos,
o olhar capta todo o delicioso sabor do horizonte, toda a irrealidade
de uma natureza próxima que o sonho imaterializa (Visiones
Aéreas).
O pintor sonha com o universo e leva-nos no caudal de sensações
maravilhosas. Cascatas de luz e águas miraculosas, a dança
do fogo (Evocaciones con Misterio), a vertiginosa cavalgada do vento,
a profundidade de oceanos insondáveis do espírito
de onde emerge a virtualidade das formas.
A composição é a do ritmo da cor, dos ritmos
que parecem ditados pelos caprichos da natureza. É nessa
ilusão que se afirma o talento do artista, a sua audácia,
o seu rigor. A intencionalidade deixa-se adivinhar na fluidez das
atmosferas poéticas captadas na sua palpitante e musical
solidão, como se não fossem vistas e apenas se revelassem
em si mesmas, num momento divino, num movimento da consciência
descobrindo-se a si mesma entre o brilho e a plasticidede da matéria.
O ar, o fogo, a luz, o mar. O canto da matéria é o
cântico da alma. A matéria existe nos limites da tela
e oferece-nos o espaço de uma presença encantada e
da evasão.
Estar e não estar, entre a presença e a ausência,
a memória e a cintilação irrepetível
do instante. Entre a felicidade e a melancolia, o esplendor matinal
e as cinzas do entardecer. Azul surreal, cofre de uma dourada cintilação
ou anoitecendo nos braços de um abismo, de uma chuva que
vela os seus mistérios (Cielos Nocturnos de Segovia).
Colorida alma da vida entre véus de sombras chamejantes.
A luz acende o azul e abre-lhe horizontes marítimos e puros
(Luces de Invierno).
A matéria é apenas cor. A cor torna-se matéria
e envolve-nos, dilui-nos. Nós deixamos de existir para existirmos
no seio da própria existência. A arte de Reguera utilizando
meios aparentemente simples, jogando com a luz, os sortilégios,
os ritmos da cor, a sua matéria, as suas rugosidades, provoca
a experiência poética de um encontro original do ser
e do Cosmos que a sua arte como forma de conhecimento e de exploração
arriscada dos sentidos e do espírito nos faz pressentir e
nos deixa magnificamente entrever.
Nota:1. Cf. Entrevista
de Rosa Pereda a Alberto Reguera in Revista Galeria de Arte Nš 5
Ano 2 Junho/Agosto de 1996, Pág.s 22 a 24.
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